A JLucentini – Consultores Associados mensalmente presta informação qualitativa, objetivando orientar os gestores de empresas de alimentação a respeito da inflação dos gêneros alimentícios, e seus impactos na erosão dos lucros. A nossa metodologia considera preço à vista nos maiores atacadistas do Estado de São Paulo, tomando-se um cardápio-base composto por itens componentes do desjejum, almoço (incluindo sopa), lanche e jantar.
- A inflação de maio/2022
A inflação apurada no mês de maio de 2022 atingiu 1,5%. No acumulado do ano, ficou em 8,0% e, nos últimos 12 meses, em 27,9%. Esses dados constam que a acomodação da inflação no mês de abril teve um repique. Há que se destacar, porém, uma certa estabilização em valores altos e a grande maioria da base do cardápio continua pressionando o custo das empresas de alimentação e varejo, cujo cenário é parecido com o que temos visto nos últimos meses, em que o grupo de alimentos e bebidas continua impactando bastante o resultado dessas empresas.
Relembramos que a apuração de nossa consultoria representa o índice de inflação nas compras das empresas de alimentação, que compreende um serviço completo diário: café da manhã, almoço com sopa, lanche de tarde, jantar e ceia, com preço à vista, cuja pesquisa é realizada no mercado atacadista de alimentos, portanto não considera custos com fretes e reciprocidade de fornecedores.
1.1 Valor de compra e custo final do produto é a mesma coisa: “O barato pode sair caro”
Há uma diferença, que muitos confundem, entre preço de compra (que é base de nosso levantamento mensal) e custo final do produto que, nele, considera a qualidade do produto entregue e a manipulação operacional, acrescentando-se, ainda, o fato de correção (limpeza e degelo) e índice de cocção.
Portanto, pode-se ter um bom desempenho na área de compras, mas um mau desempenho na área operacional. Há que se destacar a necessidade de um planejamento prévio para que o custo final sofra o menor impacto possível.
1.2 Inflação apurada em maio/22
Na nossa apuração no mês de maio de 2022, notamos que alguns alimentos aumentaram em relação ao mês anterior (abril/22). O feijão, alimento que vem regredindo seu preço no ano de 2022, teve um aumento de 28,21% sobre o mês de abril/22. Isso ocorre devido à redução da oferta, resultado de combinações de intensas geadas na região Sul, e estiagem em Goiás e em Minas Gerais, que tiveram perdas consideráveis na última safra.
Esse quadro “força” os brasileiros a pensarem em outros alimentos e grãos que possam substituir o feijão, sem sentirem tanto impacto no bolso. As proteínas, que estavam vindo com uma frequência estável em seus preços, no mês de maio/22 subiu para 3,88% sobre os 0,40% que havia atingido no mês de abril/22. Esse aumento vem dos preços do milho e da soja, que representam boa parte dos custos da produção das rações compostas por cereais, que sofreram com o clima.
Com a carne vermelha em alta, a tendência é optar por outras proteínas, porém, até mesmo as que poderiam substituir a carne vermelha também sofrem com a alta. O ovo é um deles, cujo efeito da oferta e procura proporciona aumento no preço, devido à maior procura por esse item substituto.
O ovo está com seus preços bem mais caros que o normal e sofre da mesma consequência dos alimentos que necessitam do milho, o principal ingrediente para as rações. Com as margens de lucro apertadas, a forma que os produtores encontraram para contornar esta situação foi reduzir a produção entre 10% e 15%.
Assim como o milho, que impactou em diversos alimentos, o trigo está tendo o mesmo desempenho. Com o clima frio prejudicando as plantações, o trigo teve uma redução nas produções e já está refletindo no bolso do consumidor através das massas, principalmente do pão francês, que teve uma impressionante alta de 6,67% no mês de maio, ainda que viesse caminhando de forma linear, sem aumentos.
- A inflação num cardápio simples
Todos podem se lembrar do famoso PF (o “prato feito”) que consumíamos, por ser mais barato, nos restaurantes ao lado do escritório e era possível pagar com o voucher-alimentação, fornecido pela empresa, cujo valor nem sempre era alto.
Analisando a imagem abaixo, que corresponde à variação de preços entre maio/21 e maio/22, observa-se que está cada vez mais difícil montar um prato de comida com todas as iguarias que necessitamos. Com exceção ao arroz branco e ao feijão preto, que tiveram suas percentagens menores, os demais continuam cada vez mais altos, pressionando o consumidor a cada mês, em suas compras.
- Índices oficiais versus índices reais de inflação da alimentação
Comparativamente aos índices oficiais, temos o seguinte quadro comparativo, que corrobora com o cálculo acima: reajuste nos preços de venda versus inflação nos alimentos (fonte: Valor Econômico).
| Índice | Maio/22 | Acumulado 2022 | Últimos 12 meses | Acumulado 2021 |
| Índice da JL Consultoria | 1,50% | 8,00 % | 27,90% | 24,00% |
| IPCA | 0,59% | 4,93% | 12,19% | 10,42% |
| INPC (abr.) | 1,04% | 4,49% | 12,46% | 9,36% |
| IGPM | 0,52% | 7,53% | 10,71% | 17,79% |
| IPA M | 0,45% | 8,91% | 10,84% | 20,58% |
| IPC-M | 0,35% | 3,53% | 10,08% | 9,32% |
Temos destacado em artigos de meses anteriores a deterioração no lucro das empresas de alimentação corporativa. Enquanto o impacto nos custos de alimentação é de 27,9%, os reajustes de preços, em maioria pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) (12,19%), que nem sempre são repassados na integra, produzem uma redução direta sobre o RBO (Resultado Bruto Operacional) e, consequentemente, no lucro final da empresa. Os impactos indiretos, como insatisfação do cliente e possível ruptura de contrato, são fatores mais impactantes.
- Tendências
Há fatores que não dominamos e que sofremos impactos que é o risco sistemático (existente na macroeconomia), tema já abordado em artigos anteriores, mas que vale, novamente, ressaltar. Ao analisarmos a conjuntura global, verificamos que a inflação em países que utilizam o Euro atingirá, na média, 8%, bem como os EUA, também nesse patamar – países que sempre tiveram inflação comportada (2% ao ano), enquanto a nossa vizinha Argentina está com índice acima de 60% a.a.
A falta de matéria-prima essencial, como o trigo e petróleo, exportada por esses países, ao não abastecer o mercado global proporciona uma inflação generalizada, decorrente de maior procura e menor oferta. Na semana passada foi noticiada a falta de combustível em Londres, Inglaterra, com enormes filas de veículos procurando abastecimento.
Ao avaliarmos os efeitos do cenário externo não podemos de olhar o que ocorre à nossa volta e compreender, em grande parte, os impactos na economia em nosso país, tais como: aumento das comodities no mercado internacional, aumento dos juros nos países de primeiro mundo, como forma de atenuar e diminuir a inflação e, consequentemente, possível desvalorização cambial no Brasil, aumento o custo das matérias-primas e frete, por exemplo, proteção de diversos países, impedindo a exportação de matérias-primas, privilegiando, assim, o consumo em seu mercado interno. Alguns economistas preveem uma recessão global ocasionada por esses fatores que, se acertados, podem ocasionar um estagflação mundial, fenômeno da estagnação econômica com redução de atividades (aumento da taxa de desemprego), combinado com inflação (aumento contínuo de preços).
No cenário interno, o final do outono e início do inverno, como ocorre todo ano, impacta na qualidade dos LFV (legumes, frutas e verduras), além de bebidas quentes, como café e achocolatados, utilizados sobretudo no desjejum, além de algumas quebras de safra como o feijão, devido às chuvas em regiões produtoras do Nordeste.
- Seu lucro está sendo consumido ?
Caso sua empresa esteja em situação similar à descrita nesse artigo, podemos ajudá-lo. Nossa experiência permitirá ajudar a sua empresa a encontrar a melhor relação custo-benefício em toda a sua cadeia produtiva, de venda e retenção de clientes. Não deixe de nos contatar.
Cordial abraço,
José Carlos Lucentini, Msc.
CEO
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Referências Bibliográficas:
O TEMPO. Feijão carioca, o preferido do brasileiro, está mais caro e escasso. 2022. Disponível em: <https://www.otempo.com.br/economia/feijao-carioca-o-preferido-do-brasileiro-esta-mais-caro-e-escasso-1.2676382>. Acesso em 01 de junho de 2022.
PATI, R. Com a carne mais cara, brasileiros passam a consumir mais feijão. 2022. Disponível em: <https://www.correiobraziliense.com.br/economia/2022/05/5004526-com-a-carne-mais-cara-brasileiros-passam-a-consumir-mais-feijao.html>. Acesso em 01 de junho de 2022.
BBC NEWS BRASIL. O retato da disparada da inflação no ‘prato feito’ brasileiro. 2022. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/brasil-61526033>. Acesso em 01 de junho de 2022.