A INFLAÇÃO NO PREÇO DOS ALIMENTOS EM SETEMBRO/2021

Comentários iniciais

Tem sido preocupante o aumento nos preços dos insumos no atacado, o que pode ser constatado com a evolução do IPA-M (Índice de Preços por Atacado – Mercado), que perfez a 19,16%, no acumulado até setembro/21.

A nossa tomada de preços, que representa a inflação interna, perfez 1,5% em setembro/21 e 17,9% no acumulado de 2021. Apesar de ser um índice um pouco inferior ao IPA-M, ainda é relevante, superando os reajustes de preços anuais praticados pelas empresas em coletividade que têm como base o IPCA – Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (7,02% de janeiro a setembro/21).

O IPA tem uma cesta muito abrangente do mercado em geral, enquanto a nossa corresponde especificamente ao segmento de alimentação. Apesar de diferentes no conteúdo de seus componentes, ambos têm sido convergentes ao longo dos últimos 12 meses.

Como, em geral, o índice apurado pela nossa consultoria representa o índice de inflação nas compras e consumo das empresas de alimentação, contraditoriamente os reajustes de preços têm, muitas vezes, índices que não representam a realidade do segmento, como o IPCA. Além disso, os reajustes de preços são, quase sempre, reajustados anualmente.

Nas empresas de coletividade há observância do contrato de prestação de serviços enquanto no varejo de alimentação há predominância do voucher-alimentação, cujo valor tem sido congelado pelas empresas e, ainda, pelo poder de compra do consumidor.

Fatores como a elevação mensal da matéria-prima e o reajuste anual com base em índices que não representam a realidade dos custos estão contribuindo para a erosão do lucro acrescido e, ainda, pela redução nos volumes em função da pandemia e do trabalho home office.

Isso significa que, em linhas gerais, toda a inflação nas matérias-primas que ultrapassar a 5% (que é o índice de reajuste previsto para matéria-prima) corresponderá a uma redução direta da lucratividade ou aumento no prejuízo. No caso, como já temos uma inflação nos alimentos de 17,9% em 2021, isso pode representar que 12% é a diferença já existente.

Portanto, cada empresa de alimentação deverá ter uma estratégia para negociar com seus clientes e consumidores, considerando o seu cliente provavelmente está, também, passando por dificuldades econômicas, e tentar realizar reajuste de preços é praticamente impossível, o que pode levá-lo a tomar preços de seus concorrentes no mercado. O importante nesses casos é tentar construir uma solução conjunta, uma terceira via, em que as partes possam chegar a um denominador-comum.

Na alimentação, a economia deve ser de centavos: alguns centavos por refeição perdidos em um ano podem representar uma grande fatia de lucros desperdiçados, da previsibilidade, da escolha do cardápio mais econômico e uma preparação para a área de Compras e Planejamento de Cardápios, objetivando trazer a melhor relação custo-benefício, sem proporcionar reclamações dos consumidores e de seus clientes quanto à qualidade e repetição do cardápio.

O fator estiagem tem contribuído para a má qualidade de legumes, frutas e verduras. Além do aumento no preço de compra, a má qualidade do produto (mesmo pagando mais caro) reduz a produtividade na produção e, portanto, para o LFV há dois impactos: o preço que consideramos em nossa pesquisa e outro, muito representativo, que é a qualidade – obrigando, muitas vezes, a ter maior quantidade de produtos, por exemplo, “mais laranjas para fazer o suco”.

A aceleração da inflação é percebida pelos consumidores devido aos preços nos supermercados e pelas empresas de alimentação e varejo com o aumento dos insumos para a produção da alimentação.

Além do fator da qualidade acima citado, há também os componentes dos custos indiretos, como a energia, gás, combustível, impactando no custo geral do negócio.  A crise energética não é um fator único no Brasil e os países da Europa e Ásia estão enfrentando o mesmo problema, sendo que a China está racionando energia, o que se agravará com a entrada do inverno nesses países.

Há que se considerar como fator de aumento nos custos, além da estiagem, a falta de componentes de produção, decorrente de paralisação na produção face à pandemia, influenciados, ainda, pela paridade entre dólar americano e real, os preços internacionais das commodities agrícolas, do aço e do petróleo.

Em 12 meses, até agosto, o gás de botijão usado para cozinhar acumulava elevação média de 29,02% no varejo. Na pesquisa de preços da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), o preço médio de revenda do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) no país, em botijão de 13 quilos, era de R$ 93,477 até 1º de agosto, maior patamar da série disponibilizada na internet pela ANP, desde 2004.

Até que as cadeias produtivas estejam equilibradas, a tendência é que a inflação dê um repique e o seu controle será por meio de aumento na taxa de juros pelo BACEN – Banco Central, que trará aumento no custo financeiro das empresas, além de efeitos indiretos, como redução na atividade econômica, freando a geração de empregos, acarretando redução na arrecadação de impostos.

 

Comentários sobre a inflação de setembro/2021

No quadro a seguir, apuramos a inflação de setembro/2021 em 1,5% sobre o mês de agosto/2021 e 17,9% em 2021, pressionando cada vez mais o custo das empresas de alimentação e sua lucratividade. O cenário é parecido com o que temos apresentado em nossos boletins mensais.

a) Molho para saladas e do tempero houve um aumento, comparando ao mês de agosto. Esse reajuste sucedeu ao acréscimo nos preços do azeite, o óleo e o shoyo, chegando o litro em média a R$45,49, R$8,40 e R$15,21 respectivamente. Muitos alimentos já estão retomando o seu preço “normal”, mas alguns permanecem altos, reflexo ainda do período de frio e da seca que houve no final de julho e início de agosto.

b) LFV/sobremesas – legumes, frutas e verduras. As verduras são um dos alimentos em que o preço está regressando para antes do período de inverno, ficando acessível ao bolso dos brasileiros. Por outro lado, alguns legumes estão subindo, como a batata e o tomate, resultando no aumento do índice da sopa para 1,77%.

c) Arroz e feijão – o artigo de Patricia Costa do site Sul 21, diz que “é possível perceber a queda em alguns preços de alimentos, como arroz e feijão. Para a economista, contudo, isso é um reflexo do fato de que eles subiram a patamares tão altos que as pessoas deixaram de comprar, o que força uma redução nos preços. Você começa a ter uma guerra em que a oferta pressiona para cima e a demanda pressiona os preços para baixo, porque as pessoas não conseguem absorver os impactos do preço. O patamar de preço da carne bovina hoje é em torno de R$ 40 o quilo, se a gente pegar uma média de preços entre patinho, acém, coxão duro e coxão mole. Era R$ 20 em 2015. É um aumento muito grande, então o consumo diminuiu”. Este fator pode ser observado nos quadros abaixo, extraídos do Jornal Valor Econômico de 28/09/2021, que mostra que houve um pico no período de setembro/20 a abril/21 e, a partir daí, inicia um processo de alinhamento, em jul/20.

Segundo André Braz, economista da FGV, responsável pela elaboração dos dados, foi observada sequência de 16 meses com taxas acima de dois dígitos, na inflação no varejo do arroz e feijão, entre abril de 2020 e agosto de 2021. É o período mais duradouro, para essa série, desde a sequência de 19 meses acumulados entre fevereiro de 2012 e agosto de 2013. As taxas de inflação utilizadas nos cálculos consideram sempre a série de altas acumulada em 12 meses. O economista complementa que a alta de preços não dá sinais de interrupção e no setor atacadista, antes de o produto chegar aos pratos dos consumidores, também há sinais de continuidade de inflação acumulada prolongada nos produtos.

  • Proteínas – em nossas análises, a composição do cardápio compreende um equilíbrio de incidências de todos os tipos de proteínas, sem inclusão de embutidos. Sendo o item de maior participação em nossa amostragem, teve uma evolução de 0,29%, mas no período de nove meses sofreu alta de 23,3%. O índice baixo em setembro/21 contribuiu que inflação fosse “apenas 1,5%”, o que não ocorreu em agosto, cujo aumento das proteínas impactou numa inflação, naquele mês, de 6,9%.
  • Café – já havíamos indicado em nossas análises anteriores, os impactos no preço do café são devido ao consumo no inverno, bem como aos preços internacionais. Em setembro/21 evoluiu 4,51% e a 34,8% em nove meses. Entendemos que tendência seja de estabilidade nos próximos meses.

 

 Principais indicadores de preços e as tendências no curto prazo

Segundo o site Valor Consulting (30/9/2021), os principais índices acumulados de 2021, últimos 12 meses, e do ano de 2020 são:

 

ÍndiceSet/21Acumulado

2.021

Acumulado últimos

12 meses

Acumulado

2.020

IPCA- (jan./set.)1,14%7,02%10,05%5,52%
INPC (jan./ago.)0,88%5,93%10,42%5,45%
IGPM (jan./set.)0,64%16,00%24,86%23,14%
IPA M (jan./set.)-1,21%19,16%30,56%31,64%
IPC-M (jan./set.)1,19%6,29%9,19%4,81%

 

De acordo com nosso comentário acima, o IPA-M, que representa os preços no atacado e que em muito se aproxima da inflação das empresas de alimentação, no acumulado janeiro-setembro/21 tem apresentado um crescimento constante e gradativo.

 

Nossa metodologia de análise

A JLucentini – Consultores Associados mensalmente presta informação qualitativa, objetivando orientar os gestores de empresas de alimentação a respeito da inflação dos gêneros alimentícios, e seus impactos na erosão dos lucros.

A nossa metodologia considera preço à vista nos maiores atacadistas do Estado de São Paulo, tomando-se um cardápio-base composto por itens componentes do desjejum, almoço (incluindo sopa), lanche e jantar.

 

Precauções na análise pelos gestores em suas empresas

Destacamos os seguintes aspectos importantes que, em sua maioria, podem passar despercebidos pelos gestores:

a) Preço à vista, pois quando as empresas de alimentação requerem aumento de pagamento ou rebates, os fornecedores nem sempre possuem margem de lucro que suporte esses custos adicionais, repassando-os, portanto, aos seus respectivos preços de venda, com cálculo por dentro, acrescentando impostos e margem, o que aumenta o custo final;

b) A inflação interna, conforme temos demonstrado, tem se mantido muito acima dos reajustes de preços praticados, o que diminui a margem de lucro;

c) Círculo vicioso – para manutenção da lucratividade, qualquer mudança no padrão dos cardápios e de pessoal, na maioria dos casos, representa alto risco de insatisfação dos clientes e, ao longo do tempo, possibilidades de ruptura de contrato.

d) Aumento de custos pelos decretos do Governo do Estado de São Paulo. Os decretos emitidos em novembro/2020 (65.252, 65.253 e 65.254/2020) majoraram a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) em alimentação, de 3,2% para 3,69%, e o que pode passar despercebido é que vários produtos que compõem o custo da alimentação sofreram majoração, dentre eles proteínas, LFV (legumes, frutas e verduras), laticínios e seus derivados.

 

Seu lucro está sendo consumido pela falta de controle nos reajustes de custos

Esperamos que esses comentários sirvam de alerta de como evitar a erosão de seus lucros.

Caso sua empresa deseje estruturar um processo de inflação interna de custos (que compreende mão de obra também) e, ainda, está em situação similar aos pontos enumerados neste artigo, com queda de lucratividade, insatisfação de clientes, inflação interna superior aos índices de repasse de preços, operação de logística e de distribuição, clientes ou operações com prejuízo, dentre outros, não deixe de contatar a JLucentini – Consultores Associados.

Nossa experiência permitirá ajudar a sua empresa a encontrar a melhor relação custo-benefício em toda a sua cadeia produtiva.

José Carlos Lucentini, Msc.

CEO

Contatos:

klaus@jlucentini.com.br

Cel.: (11) 98848-1119

www.jlucentini.com.br

 

Referências bibliográficas:

AGÊNCIA IBGE NOTÍCIAS. IPCA-15 foi de 1,14% em setembro. 2021. Disponível em: <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-sala-de-imprensa/2013-agencia-de-noticias/releases/31691-ipca-15-foi-de-1-14-em-setembro>. Acesso em: 30 de set. de 2021.

GOMES, L. O que explica a disparada no preço dos alimentos e até quando vão subir? 2021. Disponível em: <https://sul21.com.br/noticias/economia/2021/09/o-que-explica-a-disparada-no-preco-dos-alimentos-e-ate-quando-vao-subir/SILVEIRA, D. IPCA-15: prévia da inflação acelera para 1,14% em setembro, maior taxa para o mês desde o início do Plano Real. 2021. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2021/09/24/ipca-15-previa-da-inflacao-acelera-para-114percent-em-setembro-aponta-ibge.ghtml>. Acesso em: 30 de set. de 2021.

UOL. Prévia da inflação acelera a 1,14% e é a maior para setembro desde 1994. 2021. Disponível em: <https://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2021/09/24/ipca–15—setembro—previa-inflacao.htm>. Acesso em: 30 de set. de 2021.