A INFLAÇÃO NO PREÇO DOS ALIMENTOS EM JANEIRO/2022

A JLucentini – Consultores Associados mensalmente presta informação qualitativa, objetivando orientar os gestores de empresas de alimentação a respeito da inflação dos gêneros alimentícios, e seus impactos na erosão dos lucros. A nossa metodologia considera preço à vista nos maiores atacadistas do Estado de São Paulo, tomando-se um cardápio-base composto por itens componentes do desjejum, almoço (incluindo sopa), lanche e jantar.

  1. Precauções na análise pelos gestores em suas empresas

Destacamos os seguintes aspectos importantes que, em sua maioria, podem passar despercebidos pelos gestores:

a) Preço à vista, pois quando as empresas de alimentação requerem aumento de pagamento ou rebates, os fornecedores nem sempre possuem margem de lucro que suporte esses custos adicionais, repassando-os, portanto, aos seus respectivos preços de venda, com cálculo por dentro, acrescentando impostos e margem, o que aumenta o custo final;

b) A inflação interna, conforme temos demonstrado, tem se mantido muito acima dos reajustes de preços praticados, o que diminui a margem de lucro;

c) Círculo vicioso – para manutenção da lucratividade, qualquer mudança no padrão dos cardápios e de pessoal, na maioria dos casos, representa alto risco de insatisfação dos clientes e, ao longo do tempo, possibilidades de ruptura de contrato.

d) Aumento de custos pelos decretos do Governo do Estado de São Paulo. Os decretos emitidos em novembro/2020 (65.252, 65.253 e 65.254/2020) majoraram a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) em alimentação, de 3,2% para 3,69%, e o que pode passar despercebido é que vários produtos que compõem o custo da alimentação sofreram majoração, dentre eles proteínas, LFV (legumes, frutas e verduras), laticínios e seus derivados. Tem sido preocupante o aumento nos preços dos insumos no atacado, o que pode ser constatado com a evolução do IPA-M (Índice de Preços por Atacado – Mercado), que perfez a 2,30% em janeiro/22. As prévias do IPCA-15, demonstrados no gráfico a seguir demonstram uma tendência de redução.

  1. O IPCA – ÍNDICE DE PREÇOS AO CONSUMIDOR AMPLO

O IPCA é considerado o índice da inflação oficial do país, bem como é utilizado como base para reajustes nos preços de venda e para o reajuste do salário-mínimo. Como temos alertado em todos os nossos artigos, o IPCA não reflete a inflação interna do custo dos alimentos, visto que a medição realizada pela nossa consultoria, em 2021, indicou uma inflação de 24,0% e, o IPCA 10,4%, portanto uma diferença real de 13,6%. Caso a estrutura de custos seja 60%, há uma defasagem de 0,60 x 13,6% = 8,16% no quesito matéria-prima.

As empresas que possuem forma de reajuste nos preços de venda anual acabam suportando essa diferença e, para não auferir prejuízos, adaptam o cardápio, o que pode representar insatisfação do cliente e seus colaboradores, podendo ocasionar na ruptura do contrato.

Os índices de dezembro/21 e janeiro/22, segundo o IPCA, apresentaram uma ligeira tendência de redução, após o pico de novembro, cuja desaceleração em relação a dezembro foi influenciada pelo recuo nos transportes (-0,41%), principalmente com a queda nos preços da gasolina (-1,78%) e das passagens aéreas (-18,21%). Além disso, o etanol (-3,89%) e o gás veicular (-0,26%) também tiveram variações negativas no período.

Para a alta do IPCA-15 em janeiro, a principal influência são a alimentação e as bebidas. A alimentação no domicílio acelerou para 1,03% e os maiores impactos vieram da cenoura e cebola (17,09%), das frutas (7,10%), do café moído (6,50%) e das carnes (1,15%). Por outro lado, houve queda nos preços da batata-inglesa (-9,20%), do arroz (-2,99%) e do leite longa vida (-1,70%), que já haviam recuado no mês anterior. Mas esses alimentos podem sofrer mudanças em seus preços nos próximos meses, pois as temperaturas e chuvas fortes já apontam problemas nas próximas colheitas.

Os indicadores demonstram que o mercado absorveu a inflação passada, conforme temos demonstrado em nossos artigos mensais e, desta forma, os preços se mantiveram no pico mais elevado, atingindo 10,73% em novembro/21.

A esperada pressão menor dos alimentos no bolso do consumidor poderá ocorrer nos próximos meses. “O clima ataca novamente” – A seca atual afeta exatamente os produtos que são os mais importantes no dia a dia dos consumidores. A seca no Sul do país e o excesso de chuvas em partes do Sudeste, Nordeste e Centro-Oeste geraram perdas na produção agropecuária, aumentando os custos no campo e devem pressionar a inflação dos alimentos ao consumidor neste ano.

Os problemas climáticos se estendem desde o fim do ano passado, como resultado do fenômeno La Niña que, em resumo, provoca chuvas fortes e estiagem ao extremo. Mato Grosso e Goiás continuam sofrendo com o excesso de chuva, inclusive atrapalhando a colheita da soja em algumas áreas. Isso acontece por conta das Zonas de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS), que persistem na região.

Enquanto isso, na região Sul o tempo permanece extremamente seco, com temperaturas que ultrapassam os 40ºC. A estiagem já gerou perdas em lavouras de soja e milho, elevando preços dos grãos, que são utilizados em rações para aves. Com isso, valor do frango pode subir mais. Feijão, arroz, pecuária de leite e de corte também sofrem com clima adverso. Alguns dos principais alimentos que estão sentindo esse impacto, são:

Milho e soja: a falta de chuva prejudicou o desenvolvimento das plantas, gerando perdas em lavouras do Sul e de parte do Centro-Oeste. Essa situação vem pressionando os preços dos grãos, que já tiveram altas no ano passado por causa da seca.

Frango: o milho e o farelo de soja compõem a ração das aves e, com alta no valor dos grãos, os custos do setor estão aumentando. O preço do frango já subiu em 2021 por causa desse motivo e segundo produtores, os custos atuais podem ser repassados ao consumidor nos próximos meses.

Feijão: a seca provocou queda na produção de lavouras do Paraná, principal produtor do grão no país. Com isso, houve aumento do valor da saca no atacado, que também pode se refletir no varejo. As chuvas também geraram perdas no interior de Minas Gerais e Bahia, segundo a associação do setor.

Arroz: apesar de impactos pontuais no Rio Grande do Sul, onde há a maior produção de arroz, ainda não há estimativas oficiais de quebra de safra por causa da seca e nem de aumento de preços. A qualidade do cereal, porém, pode cair.

Leite: a falta de chuvas está prejudicando a qualidade das pastagens e aumentou os gastos com a ração das vacas. Por outro lado, produtores estão com dificuldades de repassar custos para o consumidor, pois a queda no poder de compra do brasileiro reduziu a demanda por lácteos.

Carne bovina: a seca está atrasando a engorda a pasto no Sul e sustentando as cotações do boi em patamares elevados no campo. Por outro lado, especialistas dizem que é provável que esses custos não cheguem ao consumidor, pois o varejo não consegue mais absorver altas no preço desta proteína, que disparou em 2020 e seguiu em alta em 2021.

As lavouras de soja e milho do Sul e de parte do Centro-Oeste são, até o momento, as que mais tiveram perdas por causa da seca. A falta de chuvas desde o final do ano passado prejudicou o desenvolvimento das plantas e, consequentemente, reduziu a produção de muitas fazendas.

“O cenário é complicado porque a safra de verão é tradicionalmente menor e essa quebra acentuou a dificuldade de abastecimento, que já era esperada para o primeiro semestre. Tanto é que o preço da saca de milho já superou R$ 100 em algumas praças. No Sul, já não se encontra saca por menos deste valor”, diz o analista da consultoria Safras & Mercado, Fernando Henrique Iglesias.

O setor, porém, espera recompor perdas com a entrada da segunda safra de milho, a partir de maio, que eventualmente é bem maior e representa cerca de 75% da produção nacional do grão. Somando as três safras de milho do ano, o Brasil deve colher 112,9 milhões de toneladas – 29,7% mais que no ciclo passado.

O consumidor vai demorar para ter seu poder de compra recuperado. Com a quebra de safra, os estoques finais de alimentos, já projetados com redução para este ano, devem ficar ainda menores. Feijão e milho são os que mais preocupam. A área de plantio da leguminosa vem perdendo espaço para soja e milho, devido à melhor rentabilidade desses dois. Neste ano, o Paraná, principal produtor de feijão na primeira safra, reduziu a área em 9%, e o estado é um dos que terão queda de produção devido à seca.

A alimentação fora do domicílio (+0,81%) também acelerou em relação a dezembro (+0,08%). O lanche passou de queda de 3,47% para alta de 1,25%, enquanto a refeição ficou com 0,63% de alta, resultado inferior ao do mês anterior (1,62%).

Além da demanda externa, que provoca alta também nos preços internos, há uma pressão sobre os custos de produção para os agricultores. Transporte, energia, dólar, juros e dificuldades na obtenção de insumos forçam uma alta dos custos de produção das commodities. Se tiver demanda, esses custos são repassados para os preços. Os alimentos atingiram um patamar bastante elevado nos últimos anos, o que afasta parte dos consumidores das compras, devido à perda de renda.

  1. Comentários sobre a inflação de janeiro/2022, apurada pela nossa Consultoria

A nossa tomada de preços que representa a inflação interna perfez 0,20% em janeiro/22. Podemos afirmar então que, tendo permanecido bem abaixo da média de meses anteriores, foi um índice dentro das expectativas. A inflação que apuramos referente a 2021 atingiu 24,0% e a dos últimos 12 meses (fev/21 a jan/22) indica 24,3%.

Segundo nossas coletas, os alimentos que já estão com uma variação maior são o arroz (3,20%), feijão (14,58%) e a guarnição (6,44%).

  1. Principais indicadores de preços e as tendências no curto prazo

Segundo o site Valor Consulting (01/02/2022), os principais índices acumulados de 2022, últimos 12 meses, e do ano de 2021 são:

ÍndiceJan/22Acumulado

2022

Últimos

12 meses

Acumulado

2021

Índice da JL Consultoria0,20%0,20%24,30%24,00%
IPCA- (jan.)0,58%0,58%10,20%10,42%
INPC (dez./21)0,73%10,16%10,16%9,36%
IGPM (jan.)1,82%1,82%16,91%17,79%
IPA M (jan.)2,30%2,30%19,32%20,58%
IPC-M (jan.)0,42%0,42%9,33%9,32%

Verificamos que o IPA-M (Índice de Preços por Atacado – Mercado), que representa os preços no atacado e que em muito se aproxima da inflação das empresas de alimentação, no acumulado de 2021 apresentou um crescimento constante e gradativo, e o mesmo poderá acontecer em 2022. A preocupação deve ser redobrada, todavia, há a economia de centavos no controle de custos, da previsibilidade, da escolha do cardápio mais econômico e uma preparação para a área de Compras e Planejamento de Cardápios, objetivando trazer a melhor relação custo-benefícios, sem proporcionar reclamações dos consumidores e de seus clientes quanto à qualidade e repetição do cardápio.

Por outro lado, o seu cliente provavelmente está, também, passando por dificuldades econômicas e tentar realizar reajuste de preços é praticamente impossível, o que pode levá-lo a tomar preços de seus concorrentes no mercado. O importante nesses casos é tentar construir uma solução conjunta, uma terceira via, em que as partes possam chegar a um denominador-comum.

  1. Seu lucro está sendo consumido pela falta de controle nos reajustes de custos

Esperamos que esses comentários sirvam de alerta de como evitar a erosão de seus lucros.

Caso sua empresa deseje estruturar um processo de inflação interna de custos (que compreende mão de obra também) e, ainda, está em situação similar aos pontos enumerados neste artigo, com queda de lucratividade, insatisfação de clientes, inflação interna superior aos índices de repasse de preços, operação de logística e de distribuição, clientes ou operações com prejuízo, dentre outros, não deixe de contatar a JLucentini – Consultores Associados.

Nossa experiência permitirá ajudar a sua empresa a encontrar a melhor relação custo-benefício em toda a sua cadeia produtiva.

 

Cordial abraço,

José Carlos Lucentini, Msc.

CEO

Contatos:

klaus@jlucentini.com.br

Cel.: (11) 98848-1119

www.jlucentini.com.br

 

Fontes consultadas:

CANAL RURAL.Soja: regime de chuva na segunda quinzena de janeiro pode beneficiar o grão. 2022. Disponível em: <https://www.canalrural.com.br/projeto-soja-brasil/soja-chuva-segunda-quinzena-janeiro-sul-mato-grosso/>. Acesso em 01 de fevereiro de 2022.

G1. IPCA-15: prévia da inflação fica em 0,58% em janeiro. 2022. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/noticia/2022/01/26/ipca-15-previa-da-inflacao-fica-em-058percent-em-janeiro.ghtml>. Acesso em 01 de fevereiro de 2022.

HESSEL, R. Alta de 0,58% no IPCA-15 de janeiro é puxada pelos alimentos, segundo IBGE. 2022. Disponível em: <https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2022/01/26/internas_economia,1340
272/alta-de-0-58-no-ipca-15-de-janeiro-e-puxada-pelos-alimentos-segundo-ibge.shtml
>. Acesso em 01 de fevereiro de 2022.

O SUL. Seca e chuva aumentam custos no campo e devem pressionar a inflação dos alimentos em 2022. 2022. Disponível em: <https://www.osul.com.br/seca-e-chuva-aumentam-custos-no-campo-e-devem-pressionar-inflacao-dos-alimentos-em-2022/>. Acesso em 01 de fevereiro de 2022.

SALATI, P. Seca e chuva aumentam custos no campo e devem pressionar a inflação dos alimentos em 2022. 2022. Disponível em: <https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/01/22/seca-e-chuva-aumentam-custos-no-campo-e-devem-pressionar-inflacao-dos-alimentos-em-2022.ghtml>. Acesso em 01 de fevereiro de 2022.

UDOP. Quebra de safra com chuva e seca vai prolongar inflação dos alimentos. 2022. Disponível em: <https://www.udop.com.br/noticia/2022/01/18/quebra-de-safra-com-chuva-e-seca-vai-prolongar-inflacao-dos-alimentos.html>. Acesso em 01 de fevereiro de 2022.