A INFLAÇÃO NO PREÇO DOS ALIMENTOS EM JULHO/2021

  1. Introdução

Em época de inverno, com baixas temperaturas, geadas e o frio intenso, podemos esperar uma grande mudança nos preços dos alimentos. As lavouras e plantações sofrem um grande impacto neste mês de julho/21, principalmente nas regiões Sul e Sudeste do país.

O mês de julho é um dos períodos mais frios do ano, períodos estes que com a chegada desse cenário gelado e seco, torna-se a “assombração” de muitos produtores e agricultores. O cultivo de hortaliças, cana-de-açúcar, frutas, café e grãos são os que mais sentem o choque da temperatura baixa, podendo perder plantações inteiras devido ao clima e com a escassez da chuva, a situação só fica mais alarmante.

Tem sido preocupante o aumento nos preços dos insumos no atacado, o que pode ser constatado com a evolução do IPA-M (Índice de Preços por Atacado – Mercado), que perfez a 0,71% em julho/21 e a 19,83%, no acumulado em 2021.

A nossa tomada de preços que representa a inflação interna perfez 4,86% em julho/21 e 10,97% no acumulado de 2021. Apesar de ser um índice inferior ao IPA-M, ele ainda é relevante, pois já supera os reajustes de preços anuais praticados pelas empresas em coletividade que têm como base o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) – 4,88%, de janeiro a julho/21.

Como, geralmente, ele representa o índice de inflação nas compras e consumo das empresas de alimentação, que realinha os preços, em geral, anualmente, é possível que esteja contribuindo para a erosão do lucro acrescido e, ainda, pela redução nos volumes em função da pandemia e do trabalho home office. Isso significa que, em linhas gerais, toda a inflação que ocorrer no período de julho a dez/21 corresponderá a uma redução direta da lucratividade ou aumento no prejuízo.

Os detalhamentos de nossos comentários estão a seguir.

  1. Nossa metodologia de análise

A JLucentini – Consultores Associados mensalmente presta informação qualitativa, objetivando orientar os gestores de empresas de alimentação a respeito da inflação dos gêneros alimentícios, e seus impactos na erosão dos lucros.

A nossa metodologia considera preço à vista nos maiores atacadistas do Estado de São Paulo, tomando-se um cardápio-base composto por itens componentes do desjejum, almoço (incluindo sopa), lanche e jantar.

  1. Precauções na análise pelos gestores em suas empresas

Destacamos os seguintes aspectos importantes que, em sua maioria, podem passar despercebidos pelos gestores:

a) Preço à vista, pois quando as empresas de alimentação requerem aumento de pagamento ou rebates, os fornecedores nem sempre possuem margem de lucro que suporte esses custos adicionais, repassando-os, portanto, aos seus respectivos preços de venda, com cálculo por dentro, acrescentando impostos e margem, o que aumenta o custo final;

b) A inflação interna, conforme temos demonstrado, tem se mantido muito acima dos reajustes de preços praticados, o que diminui a margem de lucro;

c) Círculo vicioso – para manutenção da lucratividade, qualquer mudança no padrão dos cardápios e de pessoal, na maioria dos casos, representa alto risco de insatisfação dos clientes e, ao longo do tempo, possibilidades de ruptura de contrato.

d) Aumento de custos pelos decretos do Governo do Estado de São Paulo. Os decretos emitidos em novembro/2020 (65.252, 65.253 e 65.254/2020) majoraram a alíquota do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços) em alimentação, de 3,2% para 3,69%, e o que pode passar despercebido é que vários produtos que compõem o custo da alimentação sofreram majoração, dentre eles proteínas, LFV (legumes, frutas e verduras), laticínios e seus derivados.

 

  1. Comentários sobre a inflação de julho/2021

No quadro a seguir, apuramos a inflação de julho/2021 em 4,86% sobre o mês de junho/2021, e a grande maioria da base do cardápio continua pressionando o custo das empresas de alimentação. O cenário é parecido com o que temos visto nos últimos meses, em que o grupo de alimentos e bebidas continua impactando bastante o resultado.

Os produtos agrícolas mais atingidos neste mês de julho/21 foram os hortifrutis, dentro desta categoria, de acordo com os especialistas do Centro de Economia Avançada em Economia Aplicada (CAPEA/USP), os mais afetados foram alface, batata e o tomate. A nossa medição obteve uma inflação de 6,65% nas saladas e em grande parte dos ingredientes da sopa.

As geadas são uma das grandes responsáveis pelos danos nas plantações de LFV (legumes, frutas e verduras), pois não atingem diretamente na raiz, mas queimam as folhas, trazendo grandes prejuízos, como em Mogi das Cruzes (SP), um dos maiores polos de hortifruti, em que foram afetadas em 40% das áreas plantadas com alface, forçando o descarte de 25% da produção de alface crespa e 20% de alface americana, que tiveram as folhas e o miolo queimados por gelo. Assim como em Ibiúna (SP), outro polo importante para a produção de folhosas, as perdas chegaram a 45% das áreas produtivas.

A taxa das sobremesas subiu para 3,30% em julho/21, consequência dos danos que as frutas tiveram em seu cultivo, assim como os alimentos de guarnição, que se elevaram a 13,10% em julho/21, refletindo altos preços no comércio final.

O milho é um dos que mais sofreram nos últimos 12 meses. As plantações passaram por ataques de uma praga comum, a cigarrinha, depois pela seca e, agora, pelas geadas. Nos últimos 12 meses os preços subiram de R$ 50 para R$ 100 por saca (60 kg).

A cana-de-açúcar também pode sentir esse impacto inflacionário. Segundo a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (Faesp), esta foi a segunda cultura mais afetada pelas geadas dos dias 19 e 20 de julho, o que deve se repetir na nova onda de frio.

Outro alimento que subiu de preço é o café, atingindo a 9,18%. Só em São Paulo, cerca de 20% da área de plantação do estado foi afetada, segundo a Faesp, e produtores afirmam que o rendimento e a qualidade dos grãos dever ser menor nesta safra.

Não somente as LFV foram afetadas, a proteína no mês de julho/21 atingiu 3,70% de inflação, decorrente da falta do pasto para os gados, obrigando os pecuaristas a alimentarem os animais com silagem, suplementos e rações especiais onde o custo de produção é maior. Pode-se também alcançar as produções de leite, tendo alguma alteração ou a sua diminuição, reproduzindo a mesma alteração nos preços de mercados e açougues.

As quedas nas produções de milho, cana e outros itens geram um efeito cascata na economia brasileira. O milho é usado nas rações de bovinos, suínos e aves. O etanol que abastece carros e motos é feito a partir da cana. A falta da chuva também é um valor acrescentado, ou seja, um aumento de preço puxa outro. Na última quinta-feira (29/7), a XP Investimentos divulgou uma nota apontando que as geadas ocorridas na semana podem aumentar 1% da inflação neste ano, e que o clima pode elevar o IPCA em 7% este ano, e a inflação a 6,7%. “Com uma possível nova onda de geada, assim como preços mais altos nas proteínas animais, o cenário pode ter alta de 7,3% nos valores de alimentos”, indicou a corretora. Com a diminuição da oferta, os preços tendem a subir, impactando no bolso da população.

Fontes:

G1. Geada destrói cafezais em Caconde e causa prejuízos a pequenos produtores. Disponível em: <https://g1.globo.com/sp/sao-carlos-regiao/noticia/2021/07/22/geada-destroi-cafezais-em-caconde-e-causa-prejuizos-a-pequenos-produtores.ghtml>. Acesso em 30 de julho de 2021.

GUIMARÃES, L. O que esperar do preço dos alimentos com onda de frio que causa geadas. Disponível em: <https://www.cnnbrasil.com.br/business/2021/07/30/o-que-esperar-do-preco-dos-alimentos-com-a-onda-de-frio-que-causou-geadas>. Acesso em 30 de julho de 2021.

VIECELI, L.; BARAN, K. Geada pode levar a inflação a 7% no ano; veja os alimentos mais afetados pela onda de frio. 2021. Disponível em: <https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2021/07/cafe-hortalicas-frutas-veja-as-culturas-que-sofrem-com-a-geada-em-sp.shtml>. Acesso em 30 de julho de 2021.

 

  1. Principais indicadores de preços e as tendências no curto prazo

 

Segundo o site Valor Consulting (02/8/2021), os principais índices acumulados de 2021, nos últimos 12 meses e do ano de 2020, são:

 

ÍndiceJul/21Acumulado

2.021

Acumulado últimos

12 meses

Acumulado

2.020

IPCA- (jan./jul.)0,72%4,88%8,59%5,52%
INPC (jan./jun.)0,60%3,95%9,22%5,45%
IGPM (jan./jul.)0,78%15,98%33,83%23,14%
IPA M (jan./jul.)0,71%19,83%44,27%31,64%
IPC-M (jan./jul.)0,83%4,26%8,30%4,81%

 

Verificamos que o IPA-M, que representa os preços no atacado e que em muito se aproxima da inflação das empresas de alimentação, no acumulado janeiro-julho/21 tem apresentado um crescimento constante e gradativo.

Há um grande problema com relação a índices: cada um deles tem composição diferente de acordo com sua finalidade, por exemplo, no IPCA os gêneros alimentícios têm participação próxima a somente 20%. Ora, se a inflação de custos das empresas de alimentação tem na sua estrutura de custos 60% em matérias-primas e o restante corresponde a 40% em mão de obra, benefícios e indiretos, jamais haverá equilíbrio da lucratividade ao se utilizar o IPCA.

A preocupação deve ser redobrada, todavia, há a economia de centavos no controle de custos, da previsibilidade, da escolha do cardápio mais econômico e uma preparação para a área de Compras e Planejamento de Cardápios, objetivando trazer a melhor relação custos-benefícios, sem proporcionar reclamações dos consumidores e de seus clientes quanto à qualidade e repetição do cardápio.

 

Por outro lado, o seu cliente provavelmente está, também, passando por dificuldades econômicas e tentar realizar reajuste de preços é praticamente impossível, o que pode levá-lo a tomar preços de seus concorrentes no mercado. O importante nesses casos é tentar construir uma solução conjunta, uma terceira via, em que as partes possam chegar a um denominador-comum.

 

  1. Seu lucro está sendo consumido pela falta de controle nos reajustes de custos

Esperamos que esses comentários sirvam de alerta de como evitar a erosão de seus lucros.

Caso sua empresa deseje estruturar um processo de inflação interna de custos (que compreende mão de obra também) e, ainda, está em situação similar aos pontos enumerados neste artigo, com queda de lucratividade, insatisfação de clientes, inflação interna superior aos índices de repasse de preços, operação de logística e de distribuição, clientes ou operações com prejuízo, dentre outros, não deixe de contatar a JLucentini – Consultores Associados.

Nossa experiência permitirá ajudar a sua empresa a encontrar a melhor relação custo-benefício em toda a sua cadeia produtiva.

 

Cordial abraço,

José Carlos Lucentini, Msc.

CEO

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